Eronildo Barbosa
A cidade de Campo Grande tem vivenciado um processo de desenvolvimento econômico e social muito acentuado. A sua população conquistou uma qualidade de vida invejável. Não é por outro motivo que a cidade continua recebendo imigrantes para viver e trabalhar por aqui. Quem visita Campo Grande se apaixona. O verde das reservas florestais a as ruas largas e planas são ativos que atestam a riqueza material e imaterial da cidade.
Em que pese tudo isso, a meu ver, a cidade anda triste nos últimos meses. O fervor cultural que é uma marca de Campo Grande perdeu um pouco do seu dinamismo histórico. A música popular que se ouvia nas praças e nos bares está adormecida. O progresso que a cidade experimenta em outras dimensões, lamentavelmente, não se ver no plano da cultura. O que parece é que arte está doente. Não pode ir para as ruas. Tem que ficar restrita aos lugares formais.
Isso é um atraso. Voltamos ao inicio do século passado em que a arte era coisa de polícia. Nem assoviar pelas ruas o código de postura de Campo Grande permitia. Essa situação precisa mudar. A arte e o artista tem que estar na rua. Não há nada mais importante para uma cidade do que a sua riqueza cultural. É ela que fica, nas suas mais variadas formas, para alimentar a alma e a sabedoria das novas gerações.
Existe um caminho para mudar. É preciso rever a Lei do Silencio criada em 1996. Ela não está em sintonia com a nova realidade. É uma coisa fria. Desligada de qualquer ideia de arte. Essa Lei é muito confusa. Não difere o que é música do que é barulho. Joga tudo no mesmo saco. É uma lei velha que “fede” a camburão. A polícia é o centro dela. Claro que uma coisa assim não pode dar certo. A arte é a antítese da repressão. Não dá liga e nem rima.
É preciso mudar essa lei, sim. Mudar para proteger o meio ambiente. A sociedade precisa estar armada de uma lei que respeite os seus direitos. O barulho precisa ser combatido. A polícia e os demais órgãos de fiscalização precisam estar atentos. Quando uma música é tocada em toda altura é barulho. Não é arte. Música é aquilo que faz bem ao ouvido e a alma. Por isso que ela precisa “andar” pelas ruas e praças para alegrar as pessoas. O barulho não.
Se o poder público conseguir definir formalmente o que é música e o que é barulho o caminho estar aberto para que a cidade retome sua velha alegria. Não tem graça nenhuma ver os nossos bares fechados ou saber que centenas de músicos estão desempregadas. Que a música sucumbiu diante da ditadura da lei. Não. Os bares e os músicos são patrimônios da cidade. Temos que zelar. Como temos que zelar também pelo cidadão e a cidadã que precisa de repouso. A prudência é a palavra de ordem. Que uma nova Lei do silencio seja aprovada pelo poder púbico. Viva ao bar e a música popular brasileira.
Eronildo Barbosa é professor universitário e doutor em educação. Email: eronildobrasil@hotmail.
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